(ENEM PPL - 2014)
Soneto
Oh! Páginas da vida que eu amava,
Rompei-vos! nunca mais! tão desgraçado!...
Ardei, lembranças doces do passado!
Quero rir-me de tudo que eu amava!
E que doido que eu fui! como eu pensava
Em mãe, amor de irmã! em sossegado
Adormecer na vida acalentado
Pelos lábios que eu tímido beijava!
Embora — é meu destino. Em treva densa
Dentro do peito a existência finda
Pressinto a morte na fatal doença!
A mim a solidão da noite infinda!
Possa dormir o trovador sem crença.
Perdoa minha mãe — eu te amo ainda!
(AZEVEDO, A. Lira dos vinte anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996)
A produção de Álvares de Azevedo situa-se na década de 1850, período conhecido na literatura brasileira como Ultrarromantismo. Nesse poema, a força expressiva da exacerbação romântica identifica-se com o(a):
amor materno, que surge como possibilidade de salvação para o eu lírico.
saudosismo da infância, indicado pela menção às figuras da mãe e da irmã.
construção de versos irônicos e sarcásticos, apenas com aparência melancólica.
presença do tédio sentido pelo eu lírico, indicado pelo seu desejo de dormir.
fixação do eu lírico pela ideia da morte, o que o leva a sentir um tormento constante.